Três motociclistas ansiosos por desafiar seu nível de pilotagem se aventuram pelas retas e curvas fechadas da região de Campos do Jordão, entre montanhas e vales da Serra da Mantiqueira. Confira o relato nas palavras do próprio aventureiro 6x6b3e

TEXTO E FOTOS: REINALDO OPICE

“Rodar pelos Alpes, por entre montanhas e vales deslumbrantes, cruzar os os agrandes altitudes e pilotar suas intermináveis curvas é o sonho de todo mototurista. Mas é uma saga que não dá para se fazer em final de semana qualquer. Ou será que dá? Foi isso que eu e os amigos João Finotti e Mauro Morelli fomos comprovar em um fim de semana de fevereiro, nos “Alpes da Mantiqueira”, versão brasileira (e muito boa!) dos Alpes.

Saímos de São Paulo pela manhã e nosso trajeto começou pela Rodovia Ayrton Senna. Nessa rodovia cruzamos três pedágios. Presença de óleo no chão das cabines e a demorada manobra de baixar o pezinho da moto, tirar a luva, abrir o bolso da jaqueta, pegar a carteira, pagar o pedágio, guardar o troco em moedinhas no bolso, fechar o bolso do “jaco” e colocar novamente as luvas mostram o total desprezo das concessionárias de rodovias para com os motociclistas.

A viagem ou por locais exuberantes

Saímos da Ayrton Senna/Carvalho Pinto em direção a São José dos Campos e cruzamos a cidade seguindo as placas indicando “São Francisco Xavier”, quando, então, entramos na SP-50 (Rodovia Monteiro Lobato), também conhecida como Estrada Velha de Campos.

Mudança de cenário

Deixando São José dos Campos para trás, logo a estrada se transforma ao começar a travessia pela Serra da Mantiqueira. Curvas fechadas e mata espessa ao redor da rodovia am a ser o novo cenário.A estrada é deliciosa, a paisagem impressiona e o asfalto está em condições muito boas. Porém, é preciso tomar cuidado, pois é uma pista utilizada também por ciclistas e por cavaleiros e, em temporada de chuvas, deve-se prestar muita atenção com a terra, areia e folhas molhadas nas curvas, que poderão se transformar em tombo certo para um piloto desatento.

Ao chegarmos à cidadezinha de Monteiro Lobato, uma pausa para um café e esticar as pernas. E após um pouco de prosa com os moradores, montamos novamente nas nossas motos e partimos para o trecho final deste dia, seguindo pela mesma estrada. De lá até Santo Antonio do Pinhal, os aclives e as curvas se acentuam à medida que aumenta a altitude. Novamente, cautela e atenção são fundamentais para aproveitar com segurança e prazer este trecho.

Desbrave esse roteiro!

Base definida

Elegemos como nossa base nos “Alpes” a cidade de Santo Antonio do Pinhal, cuja posição privilegiada na região, fartas opções de pousadas e deliciosos restaurantes. combinados com a tranquilidade típica das pequenas cidades do interior, se comprovou a melhor escolha, e logo nos dirigimos para o Restaurante Arco Íris. Situado à beira da rodovia, o restaurante tem em sua frente um lago contornado por pinheiros do brejo de mais de 20 metros de altura. No outono, eles mudam de cor e contribuem para dar aquele visual europeu para nossa viagem. Escolhemos uma mesa no terraço com vista para a pequena cachoeira e nos deliciamos com as trutas preparadas das mais diversas maneiras. Um excelente almoço, que vale a pena repetir.

Do restaurante, rumamos para uma das principais atrações turísticas da cidade: a Cachoeira do Lajeado. A cachoeira fica numa propriedade particular, que cobra ingresso, mas está muito bem conservada e conta com infraestrutura de banheiros e uma pequena lanchonete. Ela tem uma boa queda e na sua base forma uma piscina para banho. A outra principal atração de Santo Antonio do Pinhal, o Pico Agudo, ficou para ser explorado numa próxima viagem.

Estradas vicinais

Para fechar o dia, fomos visitar a Cervejaria Artesanal Araukarien, que, além de produzir uma das melhores cervejas artesanais da região, dispõe de um deck com vista para as montanhas, onde são servidos petiscos deliciosos e diversos tipos de queijos da região para acompanhar a degustação das cervejas. Thiago Carvalho, o simpático proprietário da cervejaria, acompanha pessoalmente os visitantes e tem o maior prazer em explicar a fabricação da cerveja. Outro eio que recomendamos muito!

Ansiedade batendo

No dia seguinte, acordamos já ansiosos para o que seria o ponto máximo da nossa viagem: percorrer “Os Alpes da Mantiqueira”, apelido mais que apropriado para a Estrada da Campista. Saímos de Santo Antonio do Pinhal pela SP-46 em direção a São Bento do Sapucaí e, neste curto trecho de pouco mais de 35 km, já deu para esquentar os pneus nas curvas dessa estradinha. Cruzamos a cidade de São Bento do Sapucaí sempre seguindo as placas indicando “Pedra do Baú”.

ando uma capela e virando à direita, entramos nos “Alpes da Mantiqueira” onde os primeiros quilômetros são pontilhados por casas de veraneio, pequenos sítios e muitos quebra-molas. O jeito é relaxar e seguir devagar por esse trecho. Mas, logo adiante, após ar a Cachoeira dos Amores, a estrada muda totalmente. Fortes aclives, curvas fechadíssimas e a vista espetacular da Pedra do Baú serão a tônica desse ponto em diante. O traçado não deixa nada a desejar para o traçado encontrado nos os europeus dos Alpes e a diferença do visual é que, em vez dos picos nevados, aqui os picos são cobertos por densa vegetação.

Pouco mais adiante, cruzamos à esquerda o Paiol Grande, um dos primeiros e mais famosos acampamentos de férias do Brasil. Em seguida, à direita, a estrada que leva à face norte da Pedra do Baú, ponto de partida para quem tem fôlego e habilidade para escalar. Seguindo em frente, nos surpreendemos com a grande Cachoeira do Toldi, mas atenção: a curva neste ponto é bastante fechada!

Indicações para a Pedra do Baú e cachoeira

A estrada segue por incontáveis curvas, sendo várias muito fechadas e algumas traiçoeiras, pois fecham o raio subitamente. O visual vai se alternando entre a floresta fechada, com aberturas para os vales e montanhas, e construções típicas alpinas, com chalés de madeira e canteiros de flores. Mas o cuidado deve ser redobrado, pois há muitos animais ao redor, que frequentemente estão soltos na pista, exatamente como nos aconteceu. Ao sairmos de uma curva, nos deparamos com uma égua e seu potrinho pastando despreocupadamente no acostamento. Também não é raro cruzarmos com ciclistas de montanha, alguns mais distraídos,inclusive ocupando toda a faixa da estrada.

Pouco adiante da entrada principal para a Pedra do Baú e para a rampa de asadelta, atingimos o ponto mais alto da estrada, superior a 1.800 metros. A paisagem muda para planícies de altitude, com vegetação mais rasteira e alguns trechos de retas curtas. Logo cruzamos o topo da Mantiqueira e iniciamos a descida em direção a Campos do Jordão, e novamente temos as curvas sequenciais e bem fechadas, porém agora em declive.

Campos do Jordão

No final da estrada, chegamos ao bairro de Jaguaribe, em Campos do Jordão, e era a hora de tomar um café, relaxar após a tensão da pilotagem e conversar sobre os “causos” e as curvas dos Alpes da Mantiqueira. Refeitos da aventura, hora de partir para o almoço, aproveitando ainda um pouquinho mais das curvas da Mantiqueira. Tomamos a Estrada Velha de Campos, a SP-50, em direção a São José dos Campos e, após rodar cerca de 9 km, ando por uma curva de quase 360 graus, saímos à esquerda para o Bairro dos Mellos em direção ao restaurante Empório dos Mellos. Escondido neste vilarejo, o estabelecimento apresenta uma culinária super caprichada, usando somente ingredientes da região. O proprietário e chef Lima prepara pratos que são releituras sofisticadas da cozinha caipira. E, para finalizar, não deixe de provar a rabanada com creme de baunilha, simplesmente espetacular!

Pedra do Baú

Retornamos para Campos e de lá tomamos a rodovia Floriano Pinheiro (SP-123), a conhecida estrada de Campos do Jordão, para retorno a São Paulo e finalizar da nossa aventura. Foi um fim de semana intenso, numa das regiões mais atrativas do Brasil e que comprovou deixar pouco a desejar para a experiência de pilotar nos os alpinos da Europa. Um adendo: este é um circuito de alta dificuldade e que exige perícia, atenção do motociclista e moto em perfeitas condições de pneus, suspensões e freios.

SERVIÇO:
Restaurante Arco Íris
Av. Antônio Joaquim de Oliveira, 3.663
Santo Antônio do Pinhal (SP)
Cervejaria Artesanal Araukarien
Rodovia Oswaldo Barbosa Guisard, km 153,5
Santo Antônio do Pinhal (SP)
Empório dos Mellos
Rua Elídio Gonçalves da Silva, 1.800
Campos do Jordão (SP)

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